Goblins are coming...
Já não se fala de outra coisa... Natal, para aqui, Natal para ali... enfeites por todo o lado, luzes e brinquedos sacos de compras, embrulhos enormes... e os putos com um sorriso de orelha a orelha.
Pronto, este ano decidi que não vou fazer árvore de Natal... irá ser um dia como outro qualquer, à excepção se der pela milésima vez a "Música no Coração" aí terei de ter consciência que é "esse dia".
Tenho saudades de outros tempos e acho que o meu espírito natalício anda a precisar de ser "avivado" tipo o Scrooge?! ... quando chega a esta altura o meu "enterior" revela-se mais pequeno, viajo no tempo em que ainda tinha a minha avó Mariana e que o Natal era com ela. Devia ter uns 7/8 anos, a véspera e o dia eram passados em casa dela... tudo como mandava a tradição; o bacalhau, o perú e todas as comezainas gordurosas (que eu até nem ligava muito... era mais fã daquelas sombrinhas de chocolate :-))). Lembro-me como se fosse hoje (e ainda consigo sentir aquele pequeno entusiasmo)... da hora em que chegava a casa dela, radiante (porque ainda não tinha recebido o presente de aniversário - que é a 21 - ) e a primeira coisa era sentir os cheiros no ar, à mistura de café e cevada que inundava a cozinha e os preparativos... depois, ela levava-me à sala, onde tinha o meu presente de aniversário... normalmente era uma Nancy, ou uma Tucha (aquelas com grande pés... as barbies apareceram depois) depois corria à casa da minha amiga Susana (onde andas tu mulher???) mostrar o brinquedo, passávamos a tarde a brincar com o telefone (quase verdadeiro) vermelho e com as bonecas... e roupas da irmã... umas entrouxadas (como diziam as mães)... Ah... ela tinha sempre uma caixa de bombocas com sabor de morango para mim... nhamiiii embrulhadas :-)
Chegando perto das 17h, a minha avó dava o seu valente grito... para eu ir lanchar... além de estar empanturrada de bombocas ainda havia lugar para um mimo quente e chá príncipe, como só ela sabia fazer... e para umas línguas de gato ( claro que para o bacalhau já não havia espaço e o amuanço ao jantar era normal... "porque te empanturraste de doces...")... mas a avó dizia logo para não se preocuparem... comeria melhor antes de deitar... entretanto havia sempre ameaças de que o "menino Jesus" não dava presentes às meninas que não comiam o jantar... bla bla bla... e a avó piscava o olho... como quem diz... "não lhes ligues"!!!
Antes de deitar, todos conversavam na sala... víamos filmes, a preto e branco, sobre o Natal, ríamos e eu continuava nas minhas investidas à roupa da minha tia, para me "entrouxar"... colocava maquilhagem (coisa que hoje não faço) e dançava no meio do quarto em frente ao espelho... e quando o cansaço pendia.... vinham as bolachinhas d'oro e o Ovomaltine para aconchegar o estômago e ficar mais quentinha. Dormia sempre com a minha tia e aquele cheiro de lençóis nunca mais me saíu da memória... permanece intacto. Dormia (achava eu) com um olho aberto e outro fechado para ver o "menino Jesus" descer a chaminé... e colocar no meu sapatinho o presente :-) a excitação era muita mas acabava por dormir à mesma... e quando ouvia barulho na sala... lá estavam todos à minha espera... com leite, cevada, torradinhas e uma coisa dentro do meu sapato - uma nota de 100 escudos e um chocolate regina. Ao lado os presentes dos meus pais... mas o que mais me maravilhava era aquele simbolismo do sapato.
Um dia ela foi embora, para sempre... deveria eu ter uns 11 anos e não percebi muito bem o que se tinha passado... mas percebi que os meus natais iriam ser, para sempre, diferentes.
E foram, à sua maneira, o "menino Jesus" foi substituído pelo Pai Natal e juntávamos-nos todos na casa de uma outra tia. Adorava ir ao sotão buscar uma enorme árvore e os enfeites que ela gabava terem sido comprados numa feira espectacular em Amesterdão. Eu, o meu primo e o meu irmão compunhamos tudo mas a estrela tinha de ser posta pela dona da casa... para não falar no que estragávamos por andar à bulha... "esta bola é aqui"; "não é nada"; Gosto mais desta" e partíam-se coisas "sem querer" :-) judeus... as minhas tias cozinhavam, nós judiávamos com o meu tio João, andando de bicicleta pela vinha, corríamos o laranjal ao ponto de na hora de jantar estarmos pretos...e cheios de vontade de agarrar as fatias douradas da tia Dulce. A hora de abrir os presentes era sempre uma festa... lembro-me, em particular, que o meu tio adorava queimar coisas na lareira, garrafas de sumo, bolo que já não queria ... e deitou fora o meu envelope que ainda continha os 100 florins que eles me tinham dado... eheheh... a partir daí, emendou-se... para não ter despesa extra.
Entretanto, crescemos... os irmãos casaram, os primos casaram, começaram a ter filhos... e outras famílias... se compunham... outros cheiros e rituais apareceram, desapareceram... enfim... é um ciclo que começa, termina, volta a começar... mas sempre diferente e ainda bem!
Hoje ficaria aqui a descrever ... o dia inteiro... memórias e sentidos e lágrimas... mas vou deixar isso para os meus momentos mais íntimos!
4 Comentários:
Ana, gostei muito de ler este teu "post" acerca dos natais passados...
Também me fez lembrar natais passados e pessoas de quem eu continuo a gostar muito, apesar de já cá não estarem...
E quando éramos mais novos, o Natal tinha de facto uma mística especial, mística essa que a cada ano que passa parece desaparecer um pouco...se bem que continuo a gostar muito da época natalícia...
Será que as gerações mais novas sentirão algo parecido ao que nós sentíamos na altura?
Sentirão, decerto, mas de outra maneira... antes havia uma "simplicidade" que hoje já não existe... hoje o consumismo assolou a cabeça de todos... já não se experiência o mais comum dos sentimentos...tenho pena...porque o entusiasmo já não existe na pureza... mas sim na carteira, de alguns!!!
Ainda bem que gostaste...
Era bom que o espirito de Natal que sentia-mos quando eramos putos fosse permanecendo com o passar dos anos, acho que seria mágico... bom, resta-nos incutir esse espirito nos nossos filhotes e com eles e através deles reviver como era quando eramos pequenos...
tambem gostava muito que as nossa familia voltasse a juntar-se toda nestas ocasióes, seria realmente muito fixe... mas a tradição já não é o que era...ou talvez, as pessoas já não são o que eram...enfim...
gosto muito da tua pagina, está mt fixe, embora digas que eu nunca a vejo, eu sempre que posso venho dar uma espreitadela :), sabes que eu gosto mt das coisas que escreves, tens uma maneira mt especial de o fazer, :)
beijooo
Agora é que disseste uma grande verdade! "Era bom que a nossa família se juntasse outra vez,nestas ocasiões" as pessoas mudaram de facto...mas priminha...conta com a nossa voltinha do costume, depois do almoço, no dia 25 :-) remember???
Um grande beijo
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