sexta-feira, novembro 25, 2005

Goblins are coming...



Já não se fala de outra coisa... Natal, para aqui, Natal para ali... enfeites por todo o lado, luzes e brinquedos sacos de compras, embrulhos enormes... e os putos com um sorriso de orelha a orelha.

Pronto, este ano decidi que não vou fazer árvore de Natal... irá ser um dia como outro qualquer, à excepção se der pela milésima vez a "Música no Coração" aí terei de ter consciência que é "esse dia".

Tenho saudades de outros tempos e acho que o meu espírito natalício anda a precisar de ser "avivado" tipo o Scrooge?! ... quando chega a esta altura o meu "enterior" revela-se mais pequeno, viajo no tempo em que ainda tinha a minha avó Mariana e que o Natal era com ela. Devia ter uns 7/8 anos, a véspera e o dia eram passados em casa dela... tudo como mandava a tradição; o bacalhau, o perú e todas as comezainas gordurosas (que eu até nem ligava muito... era mais fã daquelas sombrinhas de chocolate :-))). Lembro-me como se fosse hoje (e ainda consigo sentir aquele pequeno entusiasmo)... da hora em que chegava a casa dela, radiante (porque ainda não tinha recebido o presente de aniversário - que é a 21 - ) e a primeira coisa era sentir os cheiros no ar, à mistura de café e cevada que inundava a cozinha e os preparativos... depois, ela levava-me à sala, onde tinha o meu presente de aniversário... normalmente era uma Nancy, ou uma Tucha (aquelas com grande pés... as barbies apareceram depois) depois corria à casa da minha amiga Susana (onde andas tu mulher???) mostrar o brinquedo, passávamos a tarde a brincar com o telefone (quase verdadeiro) vermelho e com as bonecas... e roupas da irmã... umas entrouxadas (como diziam as mães)... Ah... ela tinha sempre uma caixa de bombocas com sabor de morango para mim... nhamiiii embrulhadas :-)

Chegando perto das 17h, a minha avó dava o seu valente grito... para eu ir lanchar... além de estar empanturrada de bombocas ainda havia lugar para um mimo quente e chá príncipe, como só ela sabia fazer... e para umas línguas de gato ( claro que para o bacalhau já não havia espaço e o amuanço ao jantar era normal... "porque te empanturraste de doces...")... mas a avó dizia logo para não se preocuparem... comeria melhor antes de deitar... entretanto havia sempre ameaças de que o "menino Jesus" não dava presentes às meninas que não comiam o jantar... bla bla bla... e a avó piscava o olho... como quem diz... "não lhes ligues"!!!

Antes de deitar, todos conversavam na sala... víamos filmes, a preto e branco, sobre o Natal, ríamos e eu continuava nas minhas investidas à roupa da minha tia, para me "entrouxar"... colocava maquilhagem (coisa que hoje não faço) e dançava no meio do quarto em frente ao espelho... e quando o cansaço pendia.... vinham as bolachinhas d'oro e o Ovomaltine para aconchegar o estômago e ficar mais quentinha. Dormia sempre com a minha tia e aquele cheiro de lençóis nunca mais me saíu da memória... permanece intacto. Dormia (achava eu) com um olho aberto e outro fechado para ver o "menino Jesus" descer a chaminé... e colocar no meu sapatinho o presente :-) a excitação era muita mas acabava por dormir à mesma... e quando ouvia barulho na sala... lá estavam todos à minha espera... com leite, cevada, torradinhas e uma coisa dentro do meu sapato - uma nota de 100 escudos e um chocolate regina. Ao lado os presentes dos meus pais... mas o que mais me maravilhava era aquele simbolismo do sapato.

Um dia ela foi embora, para sempre... deveria eu ter uns 11 anos e não percebi muito bem o que se tinha passado... mas percebi que os meus natais iriam ser, para sempre, diferentes.

E foram, à sua maneira, o "menino Jesus" foi substituído pelo Pai Natal e juntávamos-nos todos na casa de uma outra tia. Adorava ir ao sotão buscar uma enorme árvore e os enfeites que ela gabava terem sido comprados numa feira espectacular em Amesterdão. Eu, o meu primo e o meu irmão compunhamos tudo mas a estrela tinha de ser posta pela dona da casa... para não falar no que estragávamos por andar à bulha... "esta bola é aqui"; "não é nada"; Gosto mais desta" e partíam-se coisas "sem querer" :-) judeus... as minhas tias cozinhavam, nós judiávamos com o meu tio João, andando de bicicleta pela vinha, corríamos o laranjal ao ponto de na hora de jantar estarmos pretos...e cheios de vontade de agarrar as fatias douradas da tia Dulce. A hora de abrir os presentes era sempre uma festa... lembro-me, em particular, que o meu tio adorava queimar coisas na lareira, garrafas de sumo, bolo que já não queria ... e deitou fora o meu envelope que ainda continha os 100 florins que eles me tinham dado... eheheh... a partir daí, emendou-se... para não ter despesa extra.

Entretanto, crescemos... os irmãos casaram, os primos casaram, começaram a ter filhos... e outras famílias... se compunham... outros cheiros e rituais apareceram, desapareceram... enfim... é um ciclo que começa, termina, volta a começar... mas sempre diferente e ainda bem!

Hoje ficaria aqui a descrever ... o dia inteiro... memórias e sentidos e lágrimas... mas vou deixar isso para os meus momentos mais íntimos!

4 Comentários:

Blogger Electrobot disse...

Ana, gostei muito de ler este teu "post" acerca dos natais passados...

Também me fez lembrar natais passados e pessoas de quem eu continuo a gostar muito, apesar de já cá não estarem...

E quando éramos mais novos, o Natal tinha de facto uma mística especial, mística essa que a cada ano que passa parece desaparecer um pouco...se bem que continuo a gostar muito da época natalícia...

Será que as gerações mais novas sentirão algo parecido ao que nós sentíamos na altura?

28 de novembro de 2005 às 15:40  
Blogger apereira disse...

Sentirão, decerto, mas de outra maneira... antes havia uma "simplicidade" que hoje já não existe... hoje o consumismo assolou a cabeça de todos... já não se experiência o mais comum dos sentimentos...tenho pena...porque o entusiasmo já não existe na pureza... mas sim na carteira, de alguns!!!
Ainda bem que gostaste...

28 de novembro de 2005 às 16:31  
Anonymous Anónimo disse...

Era bom que o espirito de Natal que sentia-mos quando eramos putos fosse permanecendo com o passar dos anos, acho que seria mágico... bom, resta-nos incutir esse espirito nos nossos filhotes e com eles e através deles reviver como era quando eramos pequenos...
tambem gostava muito que as nossa familia voltasse a juntar-se toda nestas ocasióes, seria realmente muito fixe... mas a tradição já não é o que era...ou talvez, as pessoas já não são o que eram...enfim...
gosto muito da tua pagina, está mt fixe, embora digas que eu nunca a vejo, eu sempre que posso venho dar uma espreitadela :), sabes que eu gosto mt das coisas que escreves, tens uma maneira mt especial de o fazer, :)

beijooo

29 de novembro de 2005 às 17:11  
Blogger apereira disse...

Agora é que disseste uma grande verdade! "Era bom que a nossa família se juntasse outra vez,nestas ocasiões" as pessoas mudaram de facto...mas priminha...conta com a nossa voltinha do costume, depois do almoço, no dia 25 :-) remember???
Um grande beijo

30 de novembro de 2005 às 09:46  

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